Como Evitar Erros na Contratação de Prestadores de Serviço Pessoa Jurídica (PJ)

Contratar prestadores de serviço pessoa jurídica (PJ) é uma prática comum em empresas que buscam agilidade, flexibilidade e redução de custos. No entanto, quando essa relação é mal estruturada, o risco de ser considerada uma fraude trabalhista — conhecida como pejotização — aumenta. O resultado? Processos judiciais, multas e prejuízos à imagem corporativa. Este artigo mostra, de forma acessível e técnica, como evitar erros na contratação de prestadores PJ, aplicando boas práticas de compliance contratual e segurança jurídica.

Entenda os fundamentos legais da contratação de PJ

O que é uma contratação PJ legítima

Uma contratação PJ é válida quando há autonomia entre as partes. O prestador emite nota fiscal, organiza sua rotina e assume os riscos de sua atividade. O foco está no resultado e não na jornada. Se há controle de horários, ordens diretas ou subordinação hierárquica, o contrato deixa de ser empresarial e passa a ter características de vínculo empregatício.

O que o STF decidiu sobre terceirização

O Supremo Tribunal Federal (STF), ao julgar o Tema 725 e a ADPF 324, reconheceu a licitude da terceirização de qualquer atividade, inclusive a atividade-fim. No entanto, a empresa contratante continua responsável por fiscalizar o cumprimento das obrigações trabalhistas e previdenciárias da contratada. Assim, a liberdade empresarial vem acompanhada de deveres de governança e compliance.

O que diz a CLT e a Lei nº 13.429/2017

O art. 3º da CLT define o empregado como quem presta serviço de forma pessoal, não eventual, subordinada e remunerada. Já a Lei nº 13.429/2017, que regulamenta a terceirização, reforça que a prestação de serviços entre pessoas jurídicas deve preservar a autonomia técnica e a ausência de subordinação direta. Em resumo: a terceirização é lícita, mas deve ser genuína.

Riscos mais comuns e como preveni-los

1. Reconhecimento de vínculo de emprego

Se a Justiça identificar elementos típicos de relação de trabalho, a empresa pode ser condenada ao pagamento de todas as verbas trabalhistas, como férias, 13º, FGTS e encargos previdenciários. Segundo dados do TST, o número de ações que envolvem pejotização aumentou 57% em 2024.

2. Multas e autuações fiscais

O descumprimento de obrigações acessórias, como retenção de IRRF, PIS, COFINS, CSLL e ISS, pode gerar autuações pela Receita Federal e pelos municípios. Além do impacto financeiro, a reincidência compromete a reputação fiscal da empresa.

3. Danos à imagem e perda de credibilidade

Empresas com histórico de irregularidades trabalhistas e fiscais perdem competitividade em licitações, parcerias e processos de investimento. A transparência contratual é um ativo de mercado — e o jurídico deve ser o guardião dessa segurança.

Boas práticas para contratos PJ seguros

Due diligence e documentação

Antes de contratar, realize uma due diligence do prestador: verifique o contrato social, o CNAE, a regularidade fiscal e se a atividade exercida é compatível com o regime tributário. Exija certidões negativas e mantenha cópias arquivadas. Essa etapa simples já reduz boa parte do risco jurídico.

Clareza e foco em resultados

Evite cláusulas que tratem de controle de horário, jornada ou ordens diretas. O contrato deve especificar o escopo de trabalho, as entregas esperadas e os prazos. Quanto mais mensurável o resultado, mais robusta a relação jurídica.

Cláusulas indispensáveis

Inclua cláusulas de confidencialidade, propriedade intelectual, responsabilidade fiscal e conformidade com a LGPD. Também é importante prever a possibilidade de substituição de profissionais qualificados e proibir expressamente o controle de jornada.

Gestão e execução: a importância do compliance contratual

Governança na prática

Gestores devem ser treinados para tratar o prestador como parceiro de negócio, não como subordinado. Ordens devem ser baseadas em resultados, não em métodos. Documente reuniões, trocas de e-mails e relatórios que demonstrem autonomia. Esses registros são a principal defesa em caso de litígio.

Auditorias periódicas

Revisões semestrais dos contratos ajudam a identificar desvios de prática. Uma simples planilha de controle, com campos de risco (subordinação, pessoalidade, exclusividade), já é suficiente para prevenir grandes passivos.

Integração com o jurídico

O jurídico deve acompanhar desde a elaboração do contrato até sua execução. Essa integração garante coerência entre o texto contratual e a realidade operacional, evitando contradições que fragilizem a defesa da empresa.

Roteiro de implementação em 30 dias

Semana 1 – Diagnóstico

Liste todos os prestadores PJ e avalie se há exclusividade, ordens diretas ou controle de horário. Classifique cada contrato com base em risco: baixo, médio ou alto.

Semana 2 – Revisão contratual

Reescreva cláusulas que gerem risco e insira termos de autonomia e responsabilidade. Revise também as cláusulas tributárias e de LGPD.

Semana 3 – Padronização de processos

Crie um modelo de ordem de serviço e um roteiro de aceite de entregas. Defina uma rotina para envio de notas fiscais e relatórios de resultado.

Semana 4 – Auditoria e ajustes finais

Audite os contratos revisados e aplique um plano de correção para os casos de risco alto. Onde a subordinação é inevitável, planeje uma migração formal para CLT.

KPIs e sinais de alerta

Indicadores de compliance contratual

Acompanhe indicadores como: número de contratos com escopo definido, percentual de PJs com múltiplos clientes e tempo médio de atualização documental. Esses dados ajudam a mensurar a maturidade jurídica da empresa.

Sinais de risco prático

Fique atento a comportamentos que indicam vínculo disfarçado entre a empresa e o prestador PJ. A presença diária no ambiente de trabalho, o cumprimento de horários fixos, a obediência direta a ordens de gestores e a impossibilidade de substituição por outro profissional são sinais claros de subordinação. Outro alerta é quando o prestador recebe benefícios internos, como vale-alimentação, bônus ou participação em reuniões típicas de empregados. Esses indícios devem ser registrados e analisados pelo jurídico, que orientará os gestores sobre como ajustar o modelo contratual. A correção imediata evita litígios e reforça a conformidade empresarial.

Encerramento e transição segura

Formalização é essencial

Ao encerrar um contrato com prestador PJ, é indispensável formalizar todas as etapas para garantir segurança jurídica. O ideal é emitir um termo de quitação detalhado, que comprove o cumprimento integral das obrigações e a entrega final dos serviços. Esse documento deve conter prazos, valores e confirmações de recebimento das entregas, além de eventuais pendências resolvidas. Também é importante registrar as comunicações de encerramento e arquivar relatórios de desempenho e notas fiscais. Evitar prorrogações informais protege a empresa de futuras alegações de vínculo empregatício e reforça o compromisso com a transparência contratual.

Quando migrar para CLT

A migração de um prestador PJ para o regime CLT deve ocorrer quando a natureza da relação demonstra subordinação direta, pessoalidade e habitualidade. Se o profissional passou a cumprir jornada, receber ordens contínuas e trabalhar de forma exclusiva, é sinal de que a contratação perdeu o caráter empresarial. Nesse caso, o jurídico precisa avaliar o histórico da parceria, calcular possíveis passivos e formalizar a transição com segurança. Essa mudança não deve ser vista como custo, mas como investimento em conformidade. Um processo bem conduzido reduz riscos trabalhistas, protege a reputação corporativa e demonstra maturidade na gestão de pessoas.

Conclusão

Evitar erros na contratação de prestadores PJ não significa evitar esse modelo — mas sim fazê-lo com responsabilidade e estratégia. Uma estrutura contratual clara, acompanhada de políticas internas e fiscalização ativa, garante segurança jurídica e sustentabilidade corporativa.

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Leia também: Quando e Como Revisar Contratos Antigos da Empresa e Responsabilidade de Sócios e Administradores.

 

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